Investimentos Produtivos: Capitalismo sem culpa
Os sintomas de retomada dos investimentos produtivos, inclusive estrangeiros, ainda são incipientes e, com certeza, muito aquém de um montante compatível com os anseios de crescimento mais substantivo do PIB brasileiro e modernização da infraestrutura, decisiva para nosso desenvolvimento. Por essa razão, há algumas lições de casa a serem feitas com urgência para que o País ainda possa capitalizar o sucesso de seus programas de inclusão social, aumento da renda e enfrentamento da crise mundial e deixe de gerar desconfianças. A primeira grande tarefa é incrementar as concessões públicas, especialmente as que dizem respeito a portos, aeroportos e ferrovias, segmentos nos quais estamos bastante defasados e atrasados. É muito salutar a participação do setor privado nesses grandes empreendimentos, em parcerias com empresas de economia mista, como ocorreu no recente episódio do leilão da reserva petrolífera de Libra, na província do Pré-sal, na qual a Petrobras tem a coparticipação de grandes companhias internacionais. É necessário oferecer à população, a preços justos, bons e modernos serviços de transporte, logística e mobilidade urbana. Não se concebe que o Brasil siga convivendo com esse atraso crônico na sua infraestrutura, quando se constata que nações infinitamente menores avançaram muito mais nessa área vital. Portanto, é urgente que o País assuma o capitalismo sem medo e sem desconfiança, entendendo ser o setor privado parte muito importante no processo de desenvolvimento. Nesse sentido, as diretrizes das políticas públicas devem ser claras e objetivas. No entanto, quando os governos dão sinais dúbios sobre suas escolhas o investidor fica como o caipira na roça, amuado, a olhar de esgueio aquele sinhozinho que lhe dá ordens estranhas. Ou seja, é preciso reconquistar a simpatia do capital estrangeiro, dar-lhe as boas-vindas e tratá-lo com respeito. Da mesma forma, é preciso premiar, e não punir com mais impostos, as empresas brasileiras que ousaram partir para a conquista de novas nações para instalar seus negócios. Trata-se de relevante e difícil empreitada, ainda no seu início, de transformar companhias nacionais em organizações mundiais. Ora, não é razoável matar a galinha de ovos de ouro quando ela começa a desabrochar como poedeira não é razoável. Também é necessário olhar nossas empresas em dificuldades de maneira pragmática e não com a mão benevolente, contabilizando as externalidades da quebra de gigantes brasileiras e medindo o custo e os benefícios da decisão para o País. Afinal, quanto está custando de juros ao Brasil o calote das empresas X? Quantos candidatos aos leilões dos empreendimentos de infraestrutura e petrolíferos estão deixando ou deixaram de participar por conta dessa percepção de fragilidade? E quanto estarão exigindo a mais de taxa de retorno pelo risco demonstrado? Mantendo a identidade de nossa economia, convém lançar um olhar sobre alguns bons e históricos exemplos. Seriam os Estados Unidos tão idiotas ao manterem os incentivos aos bancos e ao setor empresarial? Claro que não! O que leva as economias para frente não são apenas os fatos, mas a percepção que se cria sobre sua situação! Temos de cuidar melhor disso.
Antoninho Marmo Trevisan é o presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho Superior do MBC (Movimento Brasil Competitivo) e do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República).