Ouvindo a juventude é mais fácil prever o futuro

“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”, afirmava o austríaco Peter Drucker, escritor de 30 livros, professor universitário nos Estados Unidos e um dos maiores gurus da gestão contemporânea. Tal afirmação é ainda mais lúcida quando se trata de prover o amanhã dos jovens e, portanto, de começar a escrever hoje os livros de história das próximas décadas.
Para cumprirmos essa responsabilidade com as novas gerações, nada melhor do que ouvi-las e auscultar o que precisam para concretizar o sonho de construir um mundo melhor, que jamais deve ser menosprezado. Pois bem, é exatamente isso que fez a 1ª Pesquisa da Juventude Ibero-Americana, recentemente apresentada em Madri. A boa notícia é que os jovens da América Latina, Portugal e Espanha manifestam otimismo sobre seu futuro (dois em cada três entrevistados acreditam que em, cinco anos, estarão melhor do que agora).
O inédito estudo, abrangendo 20 países e 20 mil entrevistas, evidencia, porém, as lições de casa a serem feitas para transformar esse otimismo em realidade. A violência e a insegurança são os principais problemas. O abuso de substâncias entorpecentes (Brasil), desemprego (América Central) e a economia (Portugal e Espanha) também estão entre as principais preocupações.
A pesquisa, desenvolvida pela Organização Ibero-Americana de Juventude, juntamente com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), tem o lúcido objetivo de subsidiar a elaboração de políticas públicas. Pela vivência diária na Trevisan Escola de Negócios, concordo integralmente com a observação dos formuladores do trabalho, de que captar as expectativas dos jovens é fundamental, especialmente agora que a América Latina vivencia uma onda de clamor da sociedade, liderada pela juventude, que almeja mais educação e segurança e menos corrupção, violência, pobreza, desigualdades e desrespeito com o ambiente e os pressupostos da sustentabilidade.
Recorte interessante do estudo é o Índice de Expectativas da Juventude, estruturado pelo PNUD. Verificou-se que o Equador, Costa Rica e Nicarágua classificam-se como as nações com a juventude mais otimista, seguidos por Uruguai, Venezuela e Panamá. No lado oposto, estão Portugal, Guatemala e Brasil.
No caso de nosso país, esse resultado deve servir de alerta. Se nossa juventude, num ambiente de quase pleno emprego e numa sequência de 10 anos de ascensão socioeconômica, mostra-se menos otimista do que a espanhola, que enfrenta uma das mais graves crises de sua história, algo realmente está errado. Não se pode subestimar a sensibilidade e a percepção dos jovens quanto aos cenários e tendências. Afinal, o que eles pedem é muito pertinente.
Mais de 150 milhões de habitantes da América Latina (um em cada quatro) são jovens de 15 e 29 anos. Metade deles vive no Brasil e no México e 80% estão concentrados em áreas urbanas. É premente ouvi-los e incentivar a sua participação na formulação das políticas públicas. É assim que será construído o futuro no qual eles serão os protagonistas. Que sejam dias melhores!

Antoninho Marmo Trevisan é o presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho Superior do MBC (Movimento Brasil Competitivo) e do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República).

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