O céu turbulento da demissão

Assisti ontem ao filme Amor Sem Escalas. Em que pese a tradução infeliz do título (do original “Up in the Air”), se trata de um excelente filme, que traz de forma inteligente uma série de questões que nos aflige neste início de século: carreira profissional x vida pessoal, relacionamentos fugazes x estabilidade, crise do emprego, ascensão da mulher no mercado de trabalho, impacto das novas tecnologias no trabalho.

O filme se baseia na rotina de Ryan (George Clooney), um executivo sênior de uma empresa especializada em realizar demissões para seus clientes. Ele viaja o país para cumprir essa missão ingrata para a maioria das pessoas, mas que ele consegue lidar com tranquilidade e objetividade por vezes assustadoras.

O processo de demitir alguém é sem dúvida um dos mais difíceis da carreira de um executivo. Ainda que um profissional experiente possa ter realizado várias ao longo da sua vida, tenho certeza de que cada demissão continua sendo um momento extremamente estressante e desagradável. Mesmo tendo sido resultado de uma decisão estudada, fruto de uma avaliação profunda de desempenho daquele profissional, o ato de demitir é por definição doloroso e complexo.

Tão difícil quanto necessário em vários momentos, o processo de demissão deve levar em conta dois princípios básicos:

  • Objetividade: por ser um momento extremamente sensível para as duas pessoas, o mais indicado é ser direto, sem rodeios e com justificativas claras.
  • Sinceridade: citar um motivo aparentemente mais fácil de explicar (“corte de custos”, “reestruturação”, etc.) em vez daquele real só vai atrapalhar ainda mais a carreira do demitido; você pode transformar esse momento difícil em uma oportunidade de feed back sincero, contribuindo para o futuro profissional da pessoa.

A tendência natural do ser humano é evitar ou adiar um acontecimento desagradável. Como profissionais, nos deparamos com esse tipo de situação a todo o momento, e o melhor é encará-la e enfrentá-la da melhor forma possível. Ao avaliar profundamente a real necessidade de demitir um profissinal e ao fazer o processo pessoalmente por quem o contratou, o executivo está garantindo o aspecto mais fundamental que um ato desse deve envolver: respeito.
Fernando Trevisan

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