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O mercado global de capitais está cada vez mais atento às questões ambientais, sociais e de governança, o chamado ESG. Essa preocupação crescente dos investidores com a sustentabilidade das empresas provocou mudanças profundas na forma como as organizações precisam relatar e justificar suas decisões. Em resposta a essa demanda, surge o IFRS de Sustentabilidade, um conjunto de normas internacionais voltadas a dar transparência aos impactos financeiros das iniciativas (ou da falta delas) relacionadas à sustentabilidade.
Segundo o professor Edison Fernandes, especialista em tributação, direito contábil e normas IFRS, as novas diretrizes foram elaboradas para padronizar a divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, com foco especial nas mudanças climáticas. “Assim como há um padrão contábil para se apresentar balanços e demonstrativos financeiros, agora temos também um padrão para demonstrar os impactos financeiros de iniciativas sustentáveis. E isso é essencial para que o mercado fale a mesma língua”, explica.
Hoje, investidores exigem das empresas não apenas metas ambientais, mas também evidências concretas de como essas metas estão sendo implementadas. Essa exigência se traduz em cláusulas específicas em contratos de financiamento, fundos de investimento e emissões de títulos, como debêntures. Para responder a essa realidade, o IFRS lançou duas normas principais: o IFRS S1, com diretrizes gerais, e o IFRS S2, voltado exclusivamente para questões climáticas.
Essas normas não tratam de sustentabilidade em si, mas de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade. E é aí que reside seu diferencial: elas operam sob os mesmos princípios da contabilidade tradicional, como materialidade, governança, auditoria e conectividade com os demonstrativos financeiros. “Toda a estrutura de compliance que já existe para a contabilidade se aplica também à sustentabilidade. Controles internos, auditorias e processos de apuração precisam ser igualmente rigorosos”, afirma o professor.
A partir de 2027, inclusive, essas informações passarão a ser auditadas com o mesmo nível de exigência aplicado aos demonstrativos financeiros tradicionais, um passo importante na consolidação da credibilidade desses dados no mercado.
O professor destaca ainda que os efeitos de eventos climáticos extremos, como as recentes inundações no Rio Grande do Sul, demonstram claramente a conexão entre riscos ambientais e resultados financeiros. Empresas que perderam estoques, interromperam operações ou precisaram alterar seus modelos logísticos viram impactos diretos em seu faturamento, ativos e despesas. “Se houve perda de estoque, isso é uma perda patrimonial. Se a produção parou, há uma queda no faturamento. Se a empresa teve que investir em adaptação, como compra de ar-condicionado ou mudança de matriz energética, isso gera despesa ou investimento. Tudo isso precisa ser refletido na contabilidade”, afirma.
É nesse contexto que os princípios fundamentais do IFRS de Sustentabilidade se destacam. O primeiro é a materialidade financeira, ou seja, a relevância da informação para a tomada de decisão dos agentes econômicos. Se um risco climático pode impactar os custos, receitas ou ativos de uma empresa, essa informação precisa ser divulgada de forma clara. O segundo é a conectividade, que exige que os relatórios de sustentabilidade dialoguem diretamente com os dados contábeis, não pode haver contradições entre um relatório e outro.
As normas seguem uma estrutura de quatro pilares: governança, estratégia, gestão de riscos e oportunidades e metas e métricas. A empresa deve informar quais instâncias de governança tratam do tema climático; qual sua estratégia diante dos desafios ambientais; quais riscos e oportunidades foram identificados; e quais metas e indicadores está utilizando para medir sua performance. “É importante dizer que a norma não obriga a empresa a agir. Ela pode dizer que não tem estratégia, nem governança, nem métricas. Mas terá que ser transparente quanto a isso e isso tem custo reputacional e financeiro”, alerta o especialista.
Na prática, a adoção dessas normas tende a induzir as empresas a se posicionarem de forma mais proativa. Afinal, em um cenário de mercado onde investidores valorizam cada vez mais a agenda ESG, a ausência de ações pode significar dificuldade de acesso a crédito, aumento no custo de capital e perda de competitividade.
A parametrização internacional das normas é outro ponto essencial. Assim como ocorreu com os padrões internacionais de contabilidade, a criação do IFRS de Sustentabilidade permite que investidores de diferentes países avaliem empresas com base em critérios semelhantes. Para companhias brasileiras, isso significa uma chance de competir em pé de igualdade por capital global, especialmente diante da expectativa de que o Brasil se destaque em fóruns internacionais, como a COP30, por suas iniciativas sustentáveis.
“O Brasil pode ser vitrine para investimentos verdes. Empresas maduras em práticas ambientais podem se beneficiar de uma estrutura padronizada para mostrar seus esforços, inclusive em iniciativas como o mercado de carbono, que ainda está em desenvolvimento, mas tem grande potencial por aqui”, avalia o professor.
Nesse cenário de transformação e novas exigências, a qualificação profissional se torna indispensável. Para aqueles que desejam se aprofundar nesse novo universo das informações financeiras de sustentabilidade, a Trevisan Escola de Negócios oferece o MBA em Normas Brasileiras de Contabilidade e IFRS, com aulas online e ao vivo, voltado a profissionais que desejam dominar os padrões contábeis internacionais e suas novas fronteiras, como o IFRS de Sustentabilidade.
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