O negro precisa estar nos cargos de comando do esporte para poder implementar uma mudança efetiva
Cento e trinta anos após a abolição da escravidão e ainda persiste no Brasil um racismo estrutural. Apesar de representarem metade da população, os negros são maioria entre os mais pobres, os mais afetados por violência, os menos escolarizados, e têm as maiores taxas de desemprego. O esporte, como parte dessa sociedade, reflete de certa forma essa desigualdade de oportunidades, além de ser um ambiente propício para atos racistas. É portanto dever de todos que trabalham com esporte discutir como o racismo se expressa no setor e como se pode combate-lo. Foi esse o tema da nona edição da série “Como Seguir o Jogo”, que visa indicar caminhos, tendências e soluções para indústria do esporte neste cenário de crise.
Segunda Aline Silva, atleta olímpica de Wrestling e uma das convidadas, o esporte de alto rendimento no Brasil requer alto investimento pessoal em equipamentos e estrutura de treinamento. Assim, existe de cara uma barreira muito grande para quem tem menos recursos, em sua maioria negros. “Quem consegue se destacar no esporte olímpico já está fora da curva, e o atleta negro ainda mais”, diz ela. Como disse Diogo Silva, campeão Panamericano de Taekwondo e outro debatedor do evento, “não é uma questão de meritocracia, apenas de esforço e recompensa, na medida em que há uma desigualdade no acesso, na partida”.
E este atleta é obrigado a lidar ao longo da sua carreira com um ambiente muitas vezes hostil, de discriminação racial. “O racismo no Brasil não é velado”, disse Breiller Pires, jornalista do El País e ESPN Brasil, e também participante do debate. “Quando a gente vê pessoas encorajadas a desferirem atitudes racistas dentro de um estádio de futebol, isso mostra que o racismo é na verdade escancarado.” Para ele, esta situação só vai mudar realmente quando tiverem mais negros em cargos de comando nas entidades esportivas. De fato, não há nenhum presidente negro nas 27 federações de futebol do País e nem nas confederações. “É preciso criar medidas e políticas permanentes de enfrentamento ao racismo”, disse Breiller. “Não adianta campanhas pontuais se seus processos internos não mudam.” Aline também entende que “essa força tem que vir das instituições, e só vai vir se houver pressão da sociedade, do consumidor, do torcedor, de baixo para cima.”
Um sistema com maior diversidade na gestão das entidades vai também permitir que os atletas se sintam mais à vontade para se posicionar pelas causas em que acredita. Como lembra Diogo, “o atleta negro que se destaca passa a ser uma referência, uma vitrine. E passa a ser influência para os jovens, não só pelo que faz como atleta, mas pelo que acredita”. No modelo atual, muitos ainda não se sentem protegidos para protestar e incentivar as mudanças necessárias. “O atleta tem medo de represália, por isso é difícil exigir esse posicionamento de pessoas que muitas vezes estão lutando ainda para conquistar seu espaço na carreira”, disse Aline.
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