Lifelong Learning: a educação como um processo contínuo

Em um mundo que se destaca pelo excesso de informação, aprender é palavra de ordem. Os motivos são inúmeros: a complexidade do contexto global, a constante atualização de tecnologias, as tensões sociais de grupos diversos, o progresso econômico e científico, entre outros fatores de influências diárias. Estar em consonância com tantas mudanças é uma tarefa difícil, mas determinante na nossa vida profissional.

No mercado profissional, a educação sempre foi um importante pilar para a capacitação e para a aquisição de habilidades para o trabalho. Na atualidade, o autodesenvolvimento, quando o próprio indivíduo é protagonista da sua capacitação, é uma necessidade para profissionais de todos os setores. Com isso, a educação ganha um significado ampliado, além dos cursos de graduação ou pós-graduação concluídos, e não sendo restrita a espaços e instituições ou a instrutores e professores. Mais do que ensino, vivemos a era do aprendizado.

A vida profissional exige cursos, formações, leitura e habilidades aprendidas diariamente. Essa busca por aprimoramento permanente tem nome: Lifelong Learning. O nome já traz a ideia de que o aprendizado é contínuo ao longo da vida. E, além disso, a busca por conhecer é uma escolha cotidiana e individual. É através dessa ligação intrínseca entre vida e desenvolvimento de habilidades que o conceito ganha força no mundo do trabalho. 

O termo pode ser traduzido para o português como ”educação continuada” ou “educação ao longo da vida”, como são citados na maioria dos textos na nossa língua. Também podemos compreender como “aprendizado contínuo”, afinal o verbo no gerúndio traz a noção de um processo em andamento. 

Os ambientes em que se desenvolve o Lifelong Learning são os mais diversos. O aprendizado pode ser mediado por instituições de ensino ou de maneira autônoma. A educação pode ser formal, não formal ou informal. Na educação formal, a aprendizagem se desenvolve em um contexto organizado e estruturado, como escolas e universidades. 

Em geral, o conhecimento adquirido tem sua validação através de um certificado ou diploma. Na educação não formal, o aprendizado é integrado com atividades que não tenham esse objetivo. O local de trabalho é um espaço de educação não formal. Por fim, a educação informal resulta das experiências diárias. Ou seja, todas as vivências de uma pessoa são passíveis de ser instrumentos e meios da educação ao longo da vida. 

Os adeptos dessa abordagem, os chamados lifelong learners, são pessoas que buscam atualização constante, identificam as habilidades que podem levar a um novo nível no seu trabalho ou, até mesmo, a uma transição de carreira. E não param. Com tamanha gama de opções de cursos, sobretudo online, com algumas horas de dedicação já é possível adquirir um novo conhecimento. E mais uma oportunidade de carreira. São muitos os benefícios em se tornar um lifelong learner.

Dentre esses benefícios, obviamente, alguns incluem um aumento na remuneração. E, além disso, quem busca conhecimento de forma ativa também se qualifica para concorrer a mais vagas — e melhores. 

O Lifelong Learning é, dessa forma, um meio de ajudar a manter aquecido o mercado. Com mais profissionais em permanente aprimoramento, os requisitos e critérios de contratação e promoção se elevam. Se os requisitos de contratação ficam mais exigentes, a qualificação é uma necessidade, mais do que um diferencial. No entanto, será a qualidade desse repertório a determinante de um sim para aquela vaga pretendida. 

Nesse contexto, as instituições de ensino têm o seu papel modificado, pois não pensamos mais que o local molda o indivíduo e sim será a busca ativa por conhecimento a qual nos conduzirá ao pleno desenvolvimento profissional e pessoal.

Aqui, você encontrará as principais informações sobre o Lifelong Learning, como aplicar na sua vida e rotina, as origens da abordagem e os principais benefícios para a sua carreira.  

Esperamos que o conhecimento da educação ao longo da vida faça diferença no seu desenvolvimento pessoal e profissional, agregando novas perspectivas e estratégias.

Como surgiu o conceito de Lifelong Learning

De acordo com Conrado Schlochauer, ao final da Segunda Guerra Mundial muitos veteranos voltaram para casa se perguntando como retomar a vida. Nesse período, a maior parte das matrículas nas universidades americanas foi de veteranos, o que modificou a forma com que os professores lidavam com os alunos. Isso aconteceu pois os ex-combatentes tinham demandas ligadas às inovações tecnológicas, muitas das quais eram desconhecidas para aqueles homens, que passaram anos distantes da vida civil. Ainda de acordo com Schlochauer, os anos de 1960 foram essenciais para o debate da educação ao longo da vida. 

Na década de 1960, organismos como a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) lançaram algumas das bases para a educação ao longo da vida. Outra instituição, o Conselho da Europa publicou um livro com o conceito de educação permanente. Esse conceito era centrado na educação de jovens e adultos e criava um padrão educacional que atendesse às demandas específicas desse público. 

Também nesse período, a UNESCO lançou duas publicações fundamentais para o tema: Introduction to Lifelong Learning e Learning to be. Os documentos abordam a educação libertadora e democrática, inspirada pelas ideias do educador brasileiro Paulo Freire. A premissa era simples: todo indivíduo deve ter a oportunidade de aprender durante toda a vida. E, por consequência, essa nova mentalidade acarretaria em mudanças na prática de ensino. Para a abordagem, a escola deve se adaptar ao indivíduo e não o oposto. 

Algumas décadas depois, em 1990, a aprendizagem ao longo da vida ganhou ainda mais destaque.  O ano de 1996 foi definido, pelo Parlamento Europeu, como “ano europeu da educação e da formação ao longo da vida”. No mesmo ano, um relatório da UNESCO foi determinante para o fomento do debate sobre o Lifelong Learning. Publicado pela Comissão de Educação para o Século XXI, cita as tensões presentes na atualidade. No entanto, é a atualização de um conceito que existia desde meados do século XX. 

O tema é tão relevante que, em 2006, a UNESCO mudou o nome do seu Instituto de Educação (UNESCO Institute of Education) para UNESCO Institute of Lifelong Learning. A mudança é mais do que um nome, é um compromisso com a educação informal e não formal e, por consequência, da educação ao longo da vida, como essenciais na constituição do aprendizado humano. 

Nessas primeiras décadas do século XXI podemos constatar a consolidação da era do Lifelong Learning. Os programas de universidades se adaptam, trazendo temas como marketing pessoal, planejamento de carreira e inteligência emocional em seus currículos. Além disso, a inclusão de cursos de curta duração como opções de carga horária complementar nas graduações. Também é nesse período que iniciam os cursos à distância, alguns oferecidos por grandes universidades mundiais, em plataformas como a Coursera e a Veduca, mas acessíveis a estudantes de qualquer lugar do planeta.  

Os estudos em metacognição favoreceram essa mudança de paradigma educacional. A consciência sobre a forma com que se adquire e desenvolve o próprio conhecimento fundamenta a metacognição, ou saber sobre o conhecimento. 

Para uma aprendizagem consciente, é necessário ter uma noção profunda sobre os processos que levam à aquisição de conhecimento, assim como das dificuldades de aprendizagem, dos fatores externos e internos que possam ser obstáculos ao pleno desenvolvimento. Outra habilidade a se construir na metacognição é o aprendizado de como lidar com o que não se sabe, ou seja, as frustrações e limitações, a fim de se empreender a aquisição de fontes e habilidades para a busca do conhecimento. 

Esses estudos em metacognição modificaram a forma de organização de currículos de escolas e universidades. Com a emergência do Lifelong Learning, tais atualizações influenciam ainda mais as graduações e pós-graduações. Mas um evento inesperado trouxe ainda mais força para a educação ao longo da vida.

Durante o período da pandemia do COVID-19, devido às restrições sanitárias, os cursos online ganharam ainda mais espaço. E é no meio online, nos cursos de curta ou longa duração, que a educação ao longo da vida deve ter seu apogeu.  

Muitas instituições, públicas ou privadas, mantêm MOOCs (Massive Open Online Course), em cursos massivos que não dependem do número de inscritos, contendo metas de aprendizagem, colaborações em fóruns abertos, muitos gratuitos e fornecendo certificados de conclusão de curso e carga horária. É um meio rápido de obter novos conhecimentos e certificação. Alguns desses cursos são ligados a universidades, mas podem ser subordinados a órgãos governamentais, organizações de classe, etc.. 

Com isso, pode ser tratada uma multiplicidade maior de  temas, compartimentando ainda mais o acesso ao conhecimento. Esses cursos colaboram para a democratização do ensino, para o aprimoramento de profissionais e estudantes e para a diversificação dos temas estudados.

Em virtude dessa evolução no conceito, das demandas sociais e das mudanças advindas do novo comportamento, pós-pandêmico, as instituições de ensino têm necessidade de modificar seus currículos, cursos e metodologias. Embora o centro do aprendizado seja o sujeito, através da busca ativa por conteúdos e aprendizado, sendo a autonomia uma habilidade essencial, que só pode ser aprendida em autodesenvolvimento. 

Mesmo assim, é possível afirmar que as escolas e universidades são locais estratégicos para mediar a educação ao longo da vida. São espaços em que os learners podem ter acesso a plataformas, professores e a um repertório imensurável de informações e conhecimentos.   

Papel das Instituições de ensino na educação continuada

Se o paradigma de décadas passadas era cursar uma graduação para alcançar um bom emprego, agora é possível afirmar: o período passado na faculdade garante estudo para o resto da vida. Nos Estados Unidos, apenas 16% dos profissionais acreditam que os quatro anos, em média, de uma graduação possam ser suficientes para o suficiente preparo ao mercado de trabalho. 

Mesmo assim, são os aprendizados em uma graduação que possibilitam ao profissional se adaptar ao Lifelong Learning, pois prepara os lifelong learners para o mercado e sua demanda por flexibilidade. Isso, sobretudo pelas constantes mudanças tecnológicas. As áreas de Ciências Humanas, por exemplo, também são impactadas por modificações no contexto que é conhecido. A evolução da sociedade e pautas cada vez mais diversificadas explicam essa nova forma de se aprender o mundo. No entanto, qualquer aprendizado, ainda que em um ambiente tão desafiador quanto o atual, é feito por intermédio de escolas ou faculdades que ganham um novo papel.

Assim, as instituições de ensino precisam se adaptar aos novos tempos. Isso, pois o público alvo se torna ainda mais abrangente, incluindo desde jovens, ansiosos por ingressar no mercado de trabalho, até funcionários seniores, que demandam novos aprendizados. Aliás, nem somente as instituições de ensino formais precisam desenvolver novos programas e cursos. Nas empresas, sejam tradicionais, startups ou até empresas públicas, o ensino organizacional emerge na universidade corporativa, formação in company, escola de governo, etc.. Dessa forma, o espaço de trabalho se impõe como um local de aprendizado, durante toda a carreira. Isso é Lifelong Learning.

E o aprendizado não se restringe ao espaço laboral. Para a educação ao longo da vida, as experiências nos grupos sociais são fundamentais. São componentes de um dos pilares do Lifelong Learning, que será abordado adiante, que privilegia a convivência, a habilidade em cooperar e a compreensão do outro. O aprendizado está disponível em todos os espaços, cabendo ao learner buscar ativamente os conhecimentos e experiências. 

Assim, há um perfil a ser desenvolvido pela pessoa que se propõe ao aprendizado contínuo, como será apresentado. Algumas predisposições se percebem, como a autonomia do learner, a abertura a novas experiências e conhecimentos e a curiosidade pelo aprendizado. Essas características podem e devem ser desenvolvidas e aperfeiçoadas. Dessa forma, o lifelong learner também é capaz de aprender a ser, como um dos pilares dessa abordagem.

Sobretudo em áreas de tecnologia, a atualização constante é tão ou mais valorizada do que diplomas formais. Isso porque é um dos setores mais influenciados pela velocidade da informação. Não o único. Na Medicina, emerge a busca por teleatendimento e cirurgias à distância. A Educação está cada vez mais informatizada e a tecnologia pode mediar o contato individual, qualificando o atendimento a pessoas com dificuldade de aprendizagem. Por isso, optar por formações que privilegiam o uso de tecnologia na área de atuação é decisivo. Mas outras habilidades podem ser aprendidas.

Uma outra forma de escolher cursos ou formações que agreguem à carreira, é observar as habilidades requeridas em um posto almejado. Para alcançar um cargo de chefia, habilidades de liderança, visão estratégica e gerenciamento de projetos podem ser determinantes. Ou ainda como obter um tipo de trabalho, por exemplo, em home office. Quais os requisitos para ter flexibilidade de horário e poder atuar de casa? Buscar cursos de gestão de tempo e de organização podem conduzir à vaga almejada. 

Assim, o Lifelong Learning coloca o indivíduo como protagonista no seu processo. Essa abordagem pode fortalecer as instituições de ensino e locais de aprendizagem, ao se apresentar como referências para o learner. Em meio à multiplicidade de opções, será a esses referenciais a que se pode recorrer. Sem perder a autonomia e o protagonismo, uma características fundamentais ao aprendiz.  

Ainda assim, os fundamentos do lifelong learning é o que fará cada um de nós tirar o melhor dessa abordagem. Afinal, é um aprendizado que irá nos acompanhar ao longo da vida, de forma que seus pilares devem ser bem compreendidos.

Pilares do Lifelong Learning 

Já vimos que as instituições de ensino e o mercado são transformados pela Lifelong Learning, pela aprendizagem constante e pelo protagonismo dos learners. Para isso, a busca ativa por aprendizados ao longo da vida se fundamenta em quatro pilares, que são habilidades a serem desenvolvidas para atingir o pleno desenvolvimento. São esses fundamentos: aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a ser.

  • Aprender a conhecer significa escolher, a partir do conhecimento de cultura geral, os temas a serem aprofundados. Essa é uma das características de um lifelong learner, capaz de elencar os aprendizados essenciais para o seu pleno desenvolvimento pessoal. Para efetuar essa opção, é necessário ter uma visão ampla. Aprender a conhecer, dessa forma, também pode significar saber como priorizar os conhecimentos fundamentais para o momento de vida do lifelong learner. Isso, para poder aproveitar melhor as oportunidades que surgirem, além de desenvolver a capacidade de se posicionar frente aos desafios diários. Com o conhecimento consolidado é possível ao learner efetuar as melhores escolhas.
  • Aprender a fazer abrange os conhecimentos necessários para além de uma qualificação profissional. O fazer envolve as ações para resolução de problemas e trabalho em equipe. É saber aplicar o que se aprende no cotidiano. O aprender a fazer é adquirido nas diversas experiências em diferentes cenários, seja no ambiente de ensino formal ou nas vivências sociais e, sobretudo, durante o trabalho. Esse aprendizado faz o learner ser capaz de se expor a novas situações e hábil em enfrentar desafios. Ao fazer, se desenvolve as habilidades humanas, como iniciativa e boa comunicação. 
  • Aprender a conviver em que se desenvolve habilidades como empatia,  compreensão do outro, gerenciamento de conflitos e a preparação para mediar diferentes pontos de vista e interesses. Nesse pilar, os valores da compreensão entre as pessoas, da diversidade e da paz têm destaque e são norteadores do aprendizado. Na convivência, se desenvolve a capacidade em entender o ponto de vista alheio, se exercita a aproximação com os objetivos em comum, a troca de experiências e se desenvolve o senso de coletividade.
  • Aprender a ser em que se desenvolve a personalidade, a atuação de forma autônoma, se empreende a capacidade de fazer escolhas e agir com responsabilidade. Esses objetivos são atingidos quando a educação privilegia aspectos do indivíduo, como memória, comunicação, aptidão física, raciocínio e sentido estético. O aprender a ser é desenvolver as potencialidades individuais, de maneira única. Nessas capacidades, a autonomia é essencial, pois através dela se faz a busca pelo melhor de cada pessoa. 

Esses pilares e formas de aprender são as diretrizes que levam um profissional a se desenvolver como um learner. Com isso, algumas características são essenciais para se atingir o melhor que a lifelong learner pode nos proporcionar, explorando todas nossas potencialidades através de habilidades que até podem ser inatas, mas certamente podem ser desenvolvidas, ao longo da vida. 

Características de um lifelong learner

Para tirar o melhor da educação ao longo da vida, alguns comportamentos são fatores de sucesso. E, ao se utilizar os princípios da Lifelong Learning, é possível desenvolver essas características para alcançar os objetivos de aprendizado. 

Flexibilidade

Uma atitude em que a pessoa deve apresentar capacidade de se adaptar à mutabilidade dos cenários, em que o conhecimento não é estanque. Isso, pois, as informações que são adquiridas em um momento podem ser atualizadas de forma constante. Ser flexível, nesse contexto, é aprender a conhecer e reconhecer a conjuntura e suas mudanças. 

Estar aberto a novos conhecimentos

Se a flexibilidade traz a capacidade de lidar com as mudanças, a abertura a novos conhecimentos auxilia nessa característica. O learner, deve sempre buscar diferentes visões de mundo para ampliar a sua. Isso, através da disposição a conhecer uma diversidade de ambientes, pessoas, aptidões e informações. A abertura a novos conhecimentos traduz-se em uma maior criatividade, pela diversidade de estímulos.

Consciência

O processo da educação ao longo da vida deve ser desenvolvido com consciência de que há sempre lacuna para evoluir ainda mais. Além disso, ter atenção aos passos dados no caminho da estruturação do conhecimento leva a um domínio do próprio aprendizado. Estar consciente, no estudo, da maneira como se aprende, faz com que esse reconhecimento seja norteador do planejamento da rotina, privilegiando a forma de obter, reter e aplicar as informações.

Determinação

Constância, foco e curiosidade são essenciais para o aprendizado contínuo. A constância faz com que se tenha persistência e presença no objetivo de estudo. A partir disso, o foco é aprimorado, sendo o direcionamento para se obter o sucesso almejado. 

Mas, fundamental para persistir com constância e foco é a curiosidade, a vontade de aprender mais, de se buscar e desejar se aperfeiçoar. O processo é contínuo e, com essas três habilidades, se exercita a determinação, que, por si só, é um aprendizado ao longo da vida.  

Habilidades de um lifelong learner

Além dos comportamentos que caracterizam um lifelong learner, há habilidades que contribuem para o desenvolvimento profissional. De acordo com relatório da Consultoria Deloitte, são quatro os principais grupos de habilidades que potencializam o desempenho no trabalho. 

São elas:

  • Habilidades comportamentais: as soft skills, são comportamentos sociais como empatia, inteligência emocional, organização e comunicação interpessoal; 
  • Habilidades de mercado: que incluem as capacidades de execução de tarefas relevantes para o desempenho profissional, atividades por meio das quais se atingem os objetivos dentro do contexto diário no trabalho como, por exemplo, habilidade em apresentar ideias e gestão do tempo .
  • Habilidades empreendedoras: são habilidades que se desenvolvem a partir de situações de incerteza, como a resolução de problemas, capacidade de se adaptar a novos cenários e a criatividade
  • Habilidades técnicas: são habilidades ligadas à área de atuação, capacidades técnicas. 

Interessante observar que, dos quatro grupos, as habilidades técnicas compõem o único com aptidões que podem ser desenvolvidas exclusivamente nas escolas ou universidades. Mesmo assim, todos os grupos contêm habilidades que podem ser objeto de aprendizagem do learner. Mas, para explorar ao máximo o aprendizado, algumas atitudes podem garantir o sucesso. A seguir, algumas dicas para a aplicação prática da lifelong learning na sua agenda de estudos.

Como se transformar em um Longlife Learner

Como visto, autonomia, curiosidade e constância são essenciais para o lifelong learner. Também se deve atentar aos pilares, que incluem aprendizados de convivência, capacidade de escolha e o pleno desenvolvimento das potencialidades. Por isso, reconhecer os potenciais é um ponto de partida para se tornar um lifelong learner.

O primeiro passo para aplicar o aprendizado contínuo na sua vida é listar seus interesses e objetivos pessoais. Reconhecer quais os conhecimentos, habilidades e comportamentos são fundamentais para alcançar o nível profissional almejado. 

Aqui também pode-se incluir as paixões e áreas de interesse. Com isso, elaborar um plano de desenvolvimento individual, em que sejam elencados os conhecimentos desejados, prazos para obtenção e meios para alcançar, sejam leituras, cursos livres ou graduação, ou seja, os caminhos que levarão ao aprendizado. 

Nesse passo, deve-se analisar de maneira realista os pontos fortes, que já conduzem ao sucesso no aprendizado, assim como os pontos a melhorar, que devem ser objeto do aprimoramento e devem nortear a busca pelos meios de aprendizagem.

Com todo o exposto, nesse ponto de partida se percebe o pilar de aprender a conhecer, pois há a escolha por aprendizados que sejam os mais eficientes para o histórico e contexto atual em que se encontra o learner. 

A partir dessas escolhas e do autoconhecimento, deve-se planejar o estudo, com uma agenda de horários e disponibilidade, diária ou semanal, para a dedicação ao aprendizado. É aconselhável reservar sempre o mesmo horário para a leitura dos conteúdos. Se possível, optar por um local tranquilo. 

É preciso criar um tempo e espaço, além de firmar compromisso com o aprendizado, possibilitando o pleno aproveitamento dos momentos dedicados ao estudo. Para aprimoramento constante, é necessário investir em conteúdos atualizados, diversificados e conectados com o objetivo de aprendizado. A constância, o foco e a estruturação dos conteúdos a serem estudados são componentes do sucesso no Lifelong Learning. 

Conrado Schlochauer propõe um planejamento de uma jornada para a aprendizagem, o lifelong learning planner. O ponto de partida é o objeto do aprendizado, aquilo que se quer aprender. De acordo com o autor, essa já é uma escolha bastante complicada. Ele sugere que seja feita um brainwriting, uma lista de coisas para se aprender. 

Com esse apanhado de ideias, formular uma frase, ”quero aprender” e a escolha. O aprendizado escolhido deve fazer sentido para o seu momento profissional e seja possível de se praticar. Após, definir a motivação para esse aprendizado, com as necessidades, objetivo em se aprender. 

O planejamento, terceiro passo, define tempos, prazos e momentos de dedicação ao aprendizado. Nesse ponto, se define a duração do projeto de aprendizado, o tempo de investimento em um período específico em que se possa aproveitar ao máximo o processo de aprendizado. A quarta etapa elenca os recursos que se relacionam com o aprendizado em questão. Isso inclui conteúdos, pessoais, redes a que se pode conectar e as experiências que possam surgir do planejamento proposto.  

Definindo o aprendizado é a definição, a mensuração que determina como saber se foi bem sucedida a experiência de aprendizagem. Por último, o autor propõe um espaço no planner para se incluir insights, o que se conclui sobre o processo, o aprendizado sobre o seu estilo de aprender, entre outros que possam surgir durante o planejamento. 

Benefícios de ser lifelong learner

Dentre os benefícios em se aderir à metodologia do Lifelong Learning, se destaca o desenvolvimento de uma visão criativa. O incremento da criatividade possibilita reconhecer e enfrentar maiores desafios, melhorando o desempenho profissional. Também possibilita a criação de um repertório de conhecimentos e informações. A criatividade gera maior capacidade de adaptação, pois dá subsídios para a resolução de problemas. Por fim, a educação ao longo da vida possibilita, na aquisição de conhecimentos, mais segurança, motivação e satisfação no aprender.

Certamente, os lifelong learners têm benefícios na remuneração. Quanto maior o número de habilidades aprendidas, maior será o rendimento do profissional. De acordo com reportagem da revista The Economist, cada ano de estudo significa um aumento de 8% a 13% do valor recebido como remuneração. 

Quanto ao acesso a vagas, pessoas que buscam atualização constante são mais requisitadas pelo mercado de trabalho. Em áreas como programação, em que as tecnologias estão em permanente mudança, as demandas se modificam de forma periódica. As habilidades requeridas podem ser muito procuradas em dado momento e, pouco tempo depois, enfrentarem uma queda na sua necessidade. Assim, além de buscar aprendizagem constante, é fundamental ter a ciência de que os conhecimentos requisitados podem ser obsoletos em determinado momento. 

Em pesquisa de 2011, professores da Universidade de Teerã apresentaram os principais benefícios da lifelong learning. Dentre eles, a capacidade de adaptação a mudanças. Essa aptidão se demonstra na atualização permanente, com a atenção ao contexto global, novidades na sua área de atuação e conhecimento de novas tecnologias. Também evidencia essa capacidade de adaptação o preparo para alterações na área de trabalho, pois esse profissional está sempre pronto para as mudanças no seu setor. 

Outro benefício apontado pelos pesquisadores diz respeito ao indivíduo. Para eles, a aprendizagem contínua torna a vida mais interessante e a pessoa mais ativa. Sabemos que a atividade cognitiva está ligada à redução de riscos de doenças da memória, mas os pesquisadores apontam uma diminuição no estresse, por uma maior motivação vital.   

E esse é um ponto que caracteriza a educação ao longo da vida. Se mudamos o tempo todo, com gostos, interesses, também as nossas habilidades profissionais enfrentam essa volatilidade. No entanto, tendo profundo conhecimento do cenário que nos cerca, para nos anteciparmos às mudanças, além de não nos apegarmos aos contextos anteriores, representa a flexibilidade, uma das características de um lifelong learner.

A seguir, apresentamos algumas experiências bem sucedidas de lifelong learning, demonstrando que essa abordagem é uma tendência consolidada. No entanto, como a característica da flexibilidade, nem mesmo a educação ao longo da vida se apresenta de um único jeito, e também está em constante transformação.

Experiências de Lifelong Learning 

Os benefícios da lifelong learning para indivíduos e comunidade são sobretudo financeiros, como foi citado, no aumento da remuneração dos profissionais. As experiências da lifelong learning pelo mundo também apontam benefícios econômicos e até mesmo de saúde. Dessa forma, aos governos e às instituições o tema é de suma importância, o que pode gerar planejamento de políticas públicas e pesquisas sobre o assunto.

Desde o início da formulação do conceito de lifelong learning, esse é objeto de interesse, estudos e proposições, como os relatórios da UNESCO. É possível afirmar que o tema desperta tamanha afinco na sua aplicação pois é uma oportunidade de democratização no ensino. Se o homeschooling, adotado em países como os Estados Unidos, em que a educação de crianças e adolescentes é feita em casa, por pais ou professores particulares, é objeto de discussão em todo mundo, o mesmo não ocorre com a Lifelong Learning, que se consolida. 

O motivo disso é o protagonismo e autonomia no aprendizado. A educação ao longo da vida é uma ferramenta de autodesenvolvimento, feito a partir da motivação do sujeito que define seus objetivos e busca ativamente pelos conteúdos desejados. Com isso, para estimular a autonomia de pessoas em idade laboral, é que a lifelong learning deve ser, cada vez mais, estimulada, inclusive por meio de políticas públicas.

Em reportagem de 2017, a revista The Economist ressaltou uma estratégia governamental para incentivar o Lifelong Learning. O governo de Singapura investiu o equivalente a US$25 por habitante para escolherem entre cursos disponibilizados. Foi um valor relativamente baixo, mas que já demonstra a atenção das organizações governamentais para os impactos positivos na economia da educação ao longo da vida.   

Pois, como um dos benefícios principais da lifelong learning é o aumento na remuneração, é de extrema importância fomentar o aprimoramento de profissionais, gerando uma elevação nos ganhos e, consequentemente, maior aquecimento na economia. Uma das formas de se investir na educação ao longo da vida é através das instituições de ensino.

No Brasil, as maiores universidades públicas do país contam com cursos online, com os mais diversos temas. Mas se engana quem pensa que essas plataformas atingem somente pessoas que ainda não tenham concluído graduação ou pós-graduação ou que busquem por uma única certificação. Cerca de 80% dos usuários da plataforma Coursera têm graduação e veem nos cursos de curta duração oportunidades de se atualizarem em temas específicos. Por outro lado, conforme relatório do Ministério da Educação, entre os profissionais da área no Brasil, somente um em cada dez possui especialização. 

Mesmo assim, o tema foi reconhecido como relevante para profissionais da educação no país, bem como na elaboração de políticas públicas. Projeto de lei de 2017 da Câmara dos Deputados, transformada na Lei nº 13.632 de 06 de março de 2018, prevê a aprendizagem ao longo da vida inserida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, voltada à educação de jovens e adultos. Essa alteração, trazendo o tema para a educação pública no Brasil, visa atender a um dos grandes desafios da educação ao longo da vida: a democratização do acesso ao ensino. 

Perspectivas da educação continuada

As últimas décadas foram definidoras do conceito de lifelong learning. Mas, até por causa desse histórico recente e intenso, os desafios são muitos. E, como ainda tem muito a se criar sobre a educação ao longo da vida, estamos apenas no início da história. Há muito a se fazer. 

Com a pandemia e o aumento da procura pelo ensino à distância, a aprendizagem contínua entra em um novo patamar. São duas as principais perspectivas para o futuro. A primeira compreende a preparação de professores e instrutores, com o acesso e domínio de tecnologias, que são os mais importantes meios de acesso dos estudantes aos conteúdos. A aprendizagem digital significa simplesmente aprendizagem, e é necessário se ter em mente, cada vez mais, de como currículos e planejamentos de ensino estão conectados a essas plataformas digitais. 

A segunda perspectiva se relaciona às políticas de igualdade, ao garantir acesso em equidade aos meios de educação ao longo da vida para pessoas em diferentes estratos sociais. Essa garantia é especialmente fundamental em sociedades desiguais, para que as chances de aperfeiçoamento sejam iguais e gerem benefícios para um maior número de pessoas. 

Nas duas perspectivas a compreensão do cenário cultural em que estão inseridos os estudantes é determinante da aprendizagem bem sucedida. De acordo com pesquisa, o estilo de vida de adultos, que frequentavam cursos online de formação de professores, interferia diretamente no aproveitamento desses estudantes. Fatores como falta de tempo, conciliação com atividades domésticas e cotidianas. 

Outro fator de influência, no tocante aos cursos online, é o conhecimento prévio ou facilidade com ferramentas digitais. Tais desafios são pontos a serem considerados na elaboração de iniciativas de Lifelong Learning e na autodeterminação dos learners. É certo que não são facilmente resolvidos, mas, com as habilidades e comportamentos requeridos para o melhor aproveitamento da metodologia, são obstáculos que podem ser superados, com educação ao longo da vida.