Administrar crises também faz parte da boa gestão de carreira

Um dos principais fatores a se considerar na gestão de carreira de atletas, treinadores, clubes e entidades ligadas ao esporte – aliás, em qualquer entidade de interesse público – é o gerenciamento de crise. É um momento pontual, porém, de certa forma, inevitável. Afinal, a superexposição a que essas figuras estão sujeitas mostra que qualquer faísca pode virar um fogaréu quando não bem controladas.

Um exemplo recente de bom gerenciamento pode ser notado no caso Cielo. Um dos melhores atletas do Brasil na atualidade foi flagrado no exame antidoping. Um susto para muitos fãs e uma manchete para todas as mídias – nacionais e internacionais. Um momento tenso para o atleta e delicado para sua assessoria. Mas a administração foi eficaz.

Primeiramente a calma e o “time” na divulgação de informações se fez necessária. A assessoria do atleta provavelmente foi bombardeada de ligações e e-mails, porém mostrou-se correta ao esperar reunir todas as informações pertinentes para só depois enviar uma nota de esclarecimento básica sobre o assunto. Nesse momento qualquer informação confusa ou incompleta pode agravar a situação, já que abre-se espaço para interpretações errôneas. Assim, por mais inconformados que os jornalistas estivessem com a demora para conseguir alguma declaração ou informação, ela saiu no momento exato que deveria e com as informações relevantes para aquela hora. Informações adicionais viriam quando fosse necessário e pertinente.

Depois, a convocação para coletiva o mais breve possível era imprescindível, já que nesses casos duas situações são factíveis: apenas o atleta pode se responsabilizar pelos seus atos, então, suas declarações oficiais são primordiais para esclarecimentos e manutenção da credibilidade da figura pública; se você não fala os outros falam por você, logo, antes que suposições se espalhem, quão antes uma declaração for feita, menor é a oportunidade de boatos e ampliação de notícias negativas em toda mídia.

Além disso, como bem lembrou o colega Erich Beting em seu blog, ponto positivo para Cielo que não expôs seus patrocinadores no momento da dificuldade. Ao vestir um terno mostrou não apenas amadurecimento, mas incorporou um papel claro de figura pública e ídolo, logo formador de opinião, e se saiu muito bem demonstrando responsabilidade e seriedade para tratar de uma situação crítica. Patrocinadores e fãs devem se orgulhar pelo profissionalismo.

Culpado ou não, não cabe a ninguém julgar. Entretanto a discussão persiste e em alguns casos se estende por muito tempo. A mesma mídia e opinião pública que coloca o indivíduo no topo, o faz descer do pedestal em um estalar de dedos. Contudo, o mais importante para o atleta é aprender a superar, não se deixar abalar pelos acontecimentos e seguir procurando dar continuidade no trabalho desenvolvido. Afinal, todos também gostam de uma reviravolta no caso, de um retorno surpreendente.

Maurren Maggi pegou 2 anos de suspensão, também por doping, e depois ganhou uma medalha olímpica. Ronaldo, o Fenômeno, suportou alguns escândalos, 9 cirurgias e terminou a carreira como o novo Pelé do futebol. Ou seja, a crise existiu, mas foi encarada com seriedade e ultrapassada com profissionalismo. É assim que se constrói uma imagem sólida e de respeito. Todos temos momentos baixos, afinal os altos são resultado de um aprendizado nas horas ruins. Cielo e muitos outros não devem temer estarem por baixo, pois é questão de tempo e trabalho virarem notícia boa novamente. E para isso, não se pode negar a crise, mas é preciso tratá-la com frieza para que as emoções não comprometam a imagem, o discernimento e tomada de decisão, estendendo o problema. E principalmente, é necessário administrá-la meticulosamente, pois cada imagem ou palavra é uma oportunidade, boa ou ruim, para a mídia construir um personagem, que pode ficar ou não marcado na história.