Sustentabilidade do nível de empregos
O Relatório da ONU sobre a Situação Econômica e Perspectivas 2014, que acaba de ser lançado, indica o início da recuperação da Europa Ocidental, uma das regiões mais duramente castigadas pela crise mundial eclodida em 2008. O PIB da Zona do Euro deverá crescer 1,5% este ano e 1,8% em 2015. Algumas nações nas quais as dificuldades têm sido maiores, como Espanha e Itália, deixarão o quadro de recessão técnica, passando a registrar pequena expansão, abaixo de 1% ao ano.
Em contrapartida, a taxa de desemprego continua batendo recordes, atingindo a média de 12,2% na Zona Euro e chegando a cerca de 27% na Espanha e Grécia, sem contar os jovens integrantes da População Economicamente Ativa, dentre os quais metade segue sem trabalho. O mais grave, conforme se constata no novo estudo da ONU, é que o crescimento na região não é forte o suficiente para estimular o dinamismo no mercado de trabalho. Estima-se que a taxa de desemprego mantenha-se em 12,1% este ano, com alguma possibilidade de recuar a 11,8% em 2015.
A análise desses dados é importante como alerta para o Brasil, onde o desemprego segue em níveis baixos: é fundamental garantir a sustentabilidade da oferta de postos de trabalho, mantendo-se melhores condições para o enfrentamento das crises, consolidando-se um mercado consumidor capaz de garantir um mínimo de demanda para girar a economia e se evitando o agravamento de problemas sociais.
Vejam que países já desenvolvidos e com alto nível de escolaridade, como a Espanha, podem mergulhar num abismo de desemprego porque não estimularam a formação de empreendedores, com a criação de fundos que apoiem financeiramente projetos produtivos e/ou da disponibilidade de crédito. Sem capital, as boas ideias não prosperam.
Obviamente, sem empresas não há empregos. Por isso, é interessante refletir sobre o mais aprofundado estudo sobre o tema no País, produzido pelo IBGE: em 2010, o Brasil contava com 4,5 milhões de empresas ativas, com idade média de 9,7 anos. O número de firmas registradas em 2010 superou o de 2009 em 6,1%, o que indica a criação de 261,7 mil organizações no período. A maior parte das novas era de pequeno porte, mas foram as maiores que demonstraram capacidade de resistir por mais tempo no mercado. Os números da letalidade são preocupantes: após três anos de existência, 48,2% não sobreviveram.
A longevidade das empresas somente pode ser garantida pelo acesso a fontes de financiamento com juros razoáveis. Porém, também são determinantes o ambiente de negócios e a qualidade da gestão. Cabe ao Brasil, portanto, avançar em distintas frentes para garantir a sustentabilidade do mercado de trabalho. O mais imediato é restabelecer o crédito e resgatar a confiança dos investidores, abalada no ano passado em decorrência da questão fiscal do governo e de algumas incertezas quanto aos rumos da política econômica.
Aos empresários e empreendedores, compete a responsabilidade da boa gestão, também essencial. Há, ainda, a lição de casa relativa à qualidade do ensino e formação de profissionais cada vez mais qualificados. São desafios a serem enfrentados por nosso país, pois o nível elevado de emprego é o requisito mais decisivo da economia, inclusive nos momentos em que é necessário enfrentar as crises da globalização.
*Antoninho Marmo Trevisan, presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho Superior do MBC – Movimento Brasil Competitivo e do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.