No Dia do Profissional da Contabilidade, CFC entrevista o contador Antoninho Trevisan
Por Maristela Girotto
Comunicação CFC
Neste período de dificuldades operacionais e financeiras para muitas empresas, em decorrência da crise econômica provocada pelo novo coronavírus, a contabilidade gerencial pode ser bastante útil para auxiliar os empregadores na gestão dos negócios. Neste 25 de Abril, Dia do Profissional da Contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade presta homenagem a todos aqueles que trabalham com a contabilidade gerencial – assim como a aqueles que se dedicam aos demais ramos da Ciência Contábil – com uma entrevista com um contador apaixonado pela profissão: Antoninho Trevisan
Um exemplo prático e comum do auxílio que a contabilidade gerencial pode dar aos empregadores ocorre quando o gestor precisa avaliar como está a empresa e se ela tem condições de continuar os seus negócios. Nesse momento, a forma mais segura de obter informações é verificar o passivo, as suas dívidas, comparando-o com a chamada geração de caixa, o que pode indicar o grau de solvência da empresa, ou seja, se ela tem condições de saldar as dívidas ou se já deve procurar renegociá-las.
“A contabilidade gerencial pode ser também chamada de inteligência contábil”, afirma o contador e professor Antoninho Marmo Trevisan, presidente da Trevisan Escola de Negócios. Segundo ele, trata-se de fazer a correlação entre os dados extraídos do balanço, de onde são retirados indicadores que, quando analisados, têm condições de determinar o que os gestores têm a fazer.
Quando se está diante de uma crise, continua Trevisan, uma das questões mais relevantes para as empresas é a capacidade de geração de caixa e, nesse caso, a contabilidade gerencial se vale do fluxo de caixa para analisar o cenário. “Na atual crise, esse ramo da contabilidade também é determinante na comparação dos custos, chamando a atenção para os que agregam valor ao produto e para os que não agregam, evidenciando, assim, aquilo que pode ser eliminado, já que não é percebido pelo consumidor. Nesse momento de baixo consumo e demanda reprimida, será muito importante para as empresas entregarem produtos mais baratos”, explica o contador.
Além disso, no momento atual, de acordo com Trevisan, a contabilidade gerencial também pode ajudar a avaliar o quanto representa o aluguel que uma companhia paga e como ela pode produzir e gerenciar o negócio a distância, o quanto mais barato custa o chamado home office – ou teletrabalho – e as vantagens de se ter boa tecnologia disponível.
“Tenho certeza que a contabilidade gerencial também será utilizada, neste momento, para apresentar pleitos aos governos. Quando hoje se questiona a viabilidade de uma empresa frente às paralisações, ao isolamento social, isso está representando um custo. Então, as perguntas que ficam são: quem pagará esse custo? Qual o tamanho desse custo?”, analisa. Para ele, será necessário informar claramente esse cenário de crise a prefeitos ou a bancos, por exemplo, demonstrando se a empresa será capaz de saldar seus compromissos financeiros diante das paralisações atuais.
A maneira como a empresa está se posicionando em termos de auxílio às camadas mais pobres da população também pode ser demonstrada pela contabilidade gerencial. “Ela pode levantar o custo desse programa social – seja porque a empresa está distribuindo máscaras, cestas básicas ou outros itens essenciais – frente ao seu caixa. De que maneira isso será controlado? Quantas pessoas vai atingir? Essas são questões que podem ser demonstradas pela contabilidade gerencial”, afirma Trevisan.
Externalidades
Esse tipo de contabilidade permite entender a real posição econômica da empresa, os principais desafios do negócio, o porquê dos resultados e, inclusive, as externalidades que mais impactam no seu desempenho.
Em relação a esse fator, Trevisan cita um exemplo: “Quando vai ser construída uma usina hidrelétrica, você pode comparar qual o custo que a sociedade vai ter, por exemplo, com o alagamento de uma grande área de terra, e a contabilidade gerencial vai demonstrar qual é a perda que se tem em termos de meio ambiente. Dessa forma, você vai poder comparar se é vantagem construir uma hidrelétrica ou uma usina eólica, que tem custo de construção mais alto, mas, por outro lado, tem externalidades menores, como impactos ambientais e sociais. Assim, a contabilidade gerencial pode demonstrar que não é razoável que se construa a hidrelétrica, mesmo ela custando menos”.
O contador lembra que a importância da avaliação desses fatores foi, inclusive, destacada pelo ex-presidente americano Bill Clinton, durante palestra ministrada no 19º Congresso Brasileiro de Contabilidade, realizado em Belém (PA) em 2012. “Clinton, de certa forma, chamou a atenção dos contadores brasileiros, porque, ao calcular custos de oportunidade ou de construção de ativos, muitas vezes, se deixa de lado as externalidades”, recorda Trevisan, acrescentando que o ex-presidente americano afirmou, na ocasião, que uma boa contabilidade deveria demonstrar também todos os impactos de uma determinada decisão gerencial que tenham a ver com a sociedade e a humanidade.
Contabilidade e o dom de sonhar
Trevisan faz questão de deixar registrada uma frase do poeta português Fernando Pessoa: “Duas coisas o destino me deu – alguns livros de contabilidade e o dom de sonhar”.
Segundo o contador, sempre que lê essa frase, ele pensa que o poeta lusitano estava se referindo à contabilidade gerencial, que permitia que ele tirasse partido da correlação das contas públicas, comparando orçamentos e despesas de servidores versus receita de tributos, entre outras coisas.
“A contabilidade gerencial é um pouco isso. Ela lhe dá insumos para você sonhar e fazer correlações para a tomada de decisões, tanto na área privada quanto na pública, especialmente em momentos de crise, ajudando a superar dificuldades”, conclui.
Fonte: CFC. Confira matéria no site